Alfredo Gomes, o primeiro atleta brasileiro negro a participar dos Jogos Olímpicos

100 anos depois de sua participação, também na edição de Paris, o atleta do Clube Esperia deixa um legado na história do Brasil e do clube

Quebrar barreiras e superar adversidades. Esses foram os principais desafios que Alfredo Gomes enfrentou ao longo de uma brilhante carreira. Neto de escravos, se tornou o primeiro atleta negro brasileiro a participar de uma Olimpíada e também é o vencedor da 1ª edição da famosa e tradicional Corrida de São Silvestre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"É com imenso orgulho que celebramos os 100 anos da histórica participação de Alfredo Gomes, o primeiro atleta negro do Brasil a competir nos Jogos Olímpicos e um ícone do Clube Esperia e do esporte brasileiro. Sua trajetória inspira e enobrece nosso clube, especialmente agora que nos aproximamos de mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Celebrar a memória de Alfredo Gomes é homenagear um verdadeiro pioneiro e herói do esporte nacional, cujas conquistas continuam a ressoar através das gerações", comenta Osvaldo Arvate Júnior, presidente do Clube Esperia.

A trajetória de sucesso do atleta começou na famosa pista de atletismo do Clube Esperia, que este ano completa 125 anos de existência, e é considerada uma das mais tradicionais do país. Um dos cartões postais do Clube, a pista sediava os intensos treinos de Alfredo, que, sem técnico, treinava sozinho por conta própria, motivado pelo amor à modalidade. Como resultado, no auge de seus vinte e poucos anos despontou entre os principais nomes do atletismo brasileiro, vencendo praticamente todas as competições das quais participou.

Alfredo trabalhava como eletricista e mesmo após um cansativo dia de trabalho, se dirigia ao Clube Esperia para treinar à noite. Curioso por natureza e ávido por adquirir conhecimento, o autodidata aprendeu a falar nada menos que 4 idiomas: inglês, italiano, alemão e francês. “Meu avô tinha um poder de aprendizado invejável. Também era muito simpático e por isso fazia amizades por onde passava. Ele foi pioneiro no atletismo brasileiro e por isso quis prestar essa homenagem, por meio de um livro com a sua história”, comenta Antonio Carlos de Paula, neto de Alfredo Gomes e autor do livro “Alfredo Gomes: Vida, Vitórias e Conquistas”.

“O Clube Esperia se orgulha em preservar em seu acervo, entre outros, a memória do primeiro atleta negro brasileiro a participar dos jogos olímpicos, que foi Alfredo Gomes nas Olimpíadas de Paris em 1924. Foram inúmeras conquistas em sua trajetória esportiva como participação em provas de pedestrianismo como "Urbino Taccola", "Estadinho", "Rustica Fanfulla" e "São Silvestre", entre outras. Alfredo Gomes, é lembrado não só pelas suas grandes conquistas mas também por uma refinada educação esportiva, colocando acima de tudo a lealdade e o respeitoso com seus adversários”, declara André Bertin, historiador do clube.

Alfredo Gomes, assim que chegou na França para participar das Olimpíadas de Paris, percebeu que as coisas não saíram como podia esperar. Ele, bem como os demais atletas da sua equipe, pagou o preço pela estreia em competições desse porte.

O treinador oficial da equipe era o norte-americano A. J. Hogarty, que aplicou aos atletas um treinamento excessivamente puxado, e Alfredo desacostumado com aquela rotina árdua de treinos, conseguiu apenas o 6º lugar numa das séries de 5.000m, e desistiu no meio da corrida campestre (cross-country), prova que foi disputada em condições muito adversas num percurso muito acidentado e sob um calor escaldante, incomum em Paris, com os termômetros chegando a marcar 45º. Dos 38 atletas participantes, apenas 15 seguiram até o final e essa foi uma das poucas vezes em que não terminou uma corrida.

Ainda assim, Alfredo Gomes representou grandiosamente o Brasil, principalmente num cenário social e político muito difícil da década de 1920 para os negros, e ficou marcado na história do Clube Esperia, deixando um legado na pista de atletismo que hoje forma talentosos novos atletas. Foi nesta mesma pista que ele veio a falecer em 17 de março de 1963, em decorrência de um treino excessivo enquanto se preparava para acender a pira olímpica dos Jogos Pan-Americanos, que aconteceu de abril a maio do mesmo ano.